Se me perguntarem por algo que eu gostasse muito, eu responderia : que as fadas existissem.
Perdi já tanto, e na verdade nada disso eu quero de volta.
Nem amores longínquos, nem crenças nem fé , nem bens materiais, nem sequer a pessoa que eu já fui.
Esvaziei, sim.
Mas não voltaria a me preencher com mesmas coisas de antes.
Gostaria sim, de um reino encantado e alegre e bonito onde eu pudesse ir rir e brincar e brincar, de vez em quando.
Gostaria sim, de seres minúsculos e brilhantes e gentis que me falassem ao ouvido coisas que eu não sei, que eu não conheço, que eu nunca vi nem ouvi.
Gostaria sim, me deixar encantar encantar encantar.
Encantar é das palavras mais bonitas que eu sei.
É um gostar extasiado deslumbrado subjugado.
Não nos acontece muito hoje em dia, pois não?
Mesmo quando gostamos muito de algo ou alguém, somos sempre demasiado cuidadosos cautelosos, procuramos sempre e de imediato os defeitos e imperfeições.
Em seguida olhamos para o lado, para os que nos acompanham, para desvendarmos em seus rostos e seus gestos, suas opiniões e impressões.
Encantamento, em vias de extinção.
Mais grave que as baleias brancas e os insectos da floresta Amazónia.
A natureza das coisas é nascer viver morrer.
E evoluir e se renovar e ser ultrapassado por..
A nossa natureza é que está a mudar demasiado depressa e a meu contragosto.
Talvez pela mesma razão que alguns insectos da Amazónia estão em vias de extinção: a evolução passa por aí, pela perda de algo que não resiste nem sobrevive às consequências da ambição desmedida do ser humano
Prevalece o mais forte o mais valente o mais resistente o mais adaptado.
Não vivemos, sobrevivemos: não há espaço para encantamentos.
Quando me perguntam por algo que eu queria muito eu respondo: "sobreviver ao caos" e conseguir continuar cuidar de minha filha.
As fadas são minúsculas, dizem são divindades antigas que foram perdendo poderes e diminuindo de tamanho, ao mesmo tempo.
Elas fugiram dos quartos das crianças onde viviam antes e refugiaram-se em lugares secretos.
Existe uma aldeia de fadas nos cabelos de minha filha.
fatima