Poça de água
Recordo bem este medo da infância.
Evitava as poças,
sobretudo as novas, após a chuva.
Afinal, uma delas poderia não ter fundo,
ainda que parecesse igual às outras.
Ponho o pé e, de súbito, afundar-me-ei,
voando para baixo,
cada vez mais baixo,
rumo às nuvens refletidas
ou talvez mais além.
Depois a poça secar-se-á,
fechar-se-á por cima de mim,
e eu para sempre trancada - onde -
ficarei com um grito não repercutido à superfície.
Só mais tarde compreendi que ~
nem todas as más aventuras
cabem nas regras do mundo
e mesmo que o quisessem,
não poderiam acontecer.
Poema de Wislawa Szymborska
Em Instante
Música: November, Azure Ray
1 comentário:
Gostei muito do poema que não conhecia.
Um grande bjinho
Enviar um comentário