...Tu me bebes
e eu me converto na tua sede.
Meus lábios mordem,
meus dentes beijam,
minha pele te veste
e ficas ainda mais despida.
Pudesse eu ser tu
e em tua saudade ser a minha própria espera.
Mas eu deito-me no teu leito
quando apenas queria dormir em ti.
E sonho-te
quando ansiava ser um sonho teu.
E levito, voo de semente,
para em mim mesmo te plantar
menos que flor:
simples perfume,
lembrança de pétala
sem chão onde tombar.
Teus olhos inundando os meus
e a minha vida, já sem leito,
vai galgando margens
até tudo ser mar.
Esse mar que só há depois do mar.
Poema de Mia Couto
3 comentários:
Sempre o apelo do mar na literatura lusófona. Gosto, claro. Beijinho.
Mia Couto merce-me todos os silêncios. Contemplação pura!
Sempre deliciosas as tuas escolhas poéticas. Lindíssimas palavras.
Já não passava aqui há algum tempo, perdi o teu link por ter mudado de pc. Tinha saudades :)
Mil beijinhos
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