quinta-feira, fevereiro 25, 2010

Mais uma vez, um dos poemas-de-minha-vida...


Desfloramento
*



Venho das noites escuras

E aprendi a ver nas trevas

e a ler nas trevas.

Venho das noites escuras
e sei o grande soluço das sombras

e os cânticos impotentes dos peregrinos.

Venho das noites escuras

e daí o meu amor imenso pela luz!

E quanto mais treva era a treva

melhor eu aprendia a amar a luz do sol,

e dos meus olhos sempre mais e mais abertos

a luz interior irradiando aniquilava as sombras...

E sendo sempre noite, era cada vez mais manhã.

E cada vez mais enorme e definitiva, a manhã subia,

a-pesar-da treva, a-pesar-do silêncio, a-pesar-de tudo!

E cada vez mais era manhã. E era ainda a noite.




A flor romântica da treva esfolhou-se nos dedos.

E então nasci.

E então vi que estava nu,

E alegrei-me por estar nu,

enfim!

Sorvi os frutos da terra,

e já não me souberam a papel impresso!

Sacudi a poeira do que me tinham ensinado,

e comecei a saber.

Sob as palavras, desvendou-se então a voz,

e a canção ardente da vida já não encontrou algodão

nos meus ouvidos.



Ah! Só quem veio das trevas e das noites escuras

pode amar assim o imenso mundo do sol!
*


Poema de Adolfo Casais Monteiro

1 comentário:

Anónimo disse...

Lindo mm... este tb faz parte da banda sonora da minha vida.
Obrigada, p ele hoje.
Beijos meus para ti
Kerli