terça-feira, fevereiro 01, 2011

Retrato de Mulher







Tem que ser à escolha.




Tem que mudar para que nada mude.




É fácil, impossível, difícil, vale a pena tentar.




Olhos tem, se necessário, ora azuis, ora cinzentos,




negros, alegres, raso se água sem motivo.




Dorme com ele como qualquer uma, única no mundo.




Dá-lhe quatro filhos, nenhum, um.




Ingénua, mas a melhor a aconselhar.




Frágil, mas carregará o fardo.




Não tem a cabeça no lugar, mas há-de ter.




Lê Jaspers e revistas femininas.




Não sabe para que serve este parafuso mas constrói uma ponte.




Jovem, como sempre, ainda jovem.




Segura nas mãos um pardal com a asa partida,




o seu próprio dinheiro para uma viagem longa e
distante,




o cutelo da carne, a compressa e um cálice de vodka.




Para onde corre assim, não estará cansada?




De maneira alguma, um pouco, muito, não importa.




Ou o ama, ou teima em amá-lo.




Para o bem, para o mal e por o amor de Deus.




*




de Wislawa Szymborska




(adoro-a!)

Sem comentários: