sábado, abril 21, 2018

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Há coisas que nunca
tivemos em crianças e perdem
o valor para sempre. Aquele sempre
dos primeiros dez anos, onde o tempo,
as pessoas, as coisas
parecem enormes e indestrutíveis.

Disfarçar-se de relâmpago
ou de outras coisas impossíveis, comer
todos os chocolates, ter uma bicicleta igual
à do estúpido do vizinho, fazer
as coisas que os adultos escondem
atrás da porta dos quartos, retribuir
a bofetada aos nossos 
legítimos superiores, querer
morder com justa causa 
tanta gente no mundo e 
só poder no escuro
morder uma almofada.


Poema de Inês Lourenço
Ilustração de Yejukoo

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