sábado, março 29, 2008


Eu ouço apenas um rouxinol









Há quem tenha todas as filosofias do mundo



eu ouço apenas um rouxinol na floresta



-- e isso me basta.



Gosto de ouvi-lo. É tudo.



Bebo o vinho, beijo na língua,



e não sei a casta.











Outros são os enólogos,



os profundíssimos enólogos.



Eu mal distingo o azal do cabernet,



o loureiro do trajadura.



E assim vivo, animal de sons e cheiros,



longínqua e lunática criatura.











Há quem tenha todas as filosofias do mundo.



Eu ouço apenas um rouxinol na floresta



-- e isso me basta.



Gosto de ouvi-lo. É tudo.



Sou de uma espécie rara: estrela-do-mar



em terra, no fim de tarde tranquilo.















Poema de José Carlos de Vasconcelos
em Repórter do Coração



quinta-feira, março 27, 2008

a qualquer estranho:


Gosto que sejas gentil comigo
Que me fales doce
E me olhes a direito

fatima

segunda-feira, março 24, 2008





Com as minhas mãos eu posso construir o meu mundo.
E limpá-lo.
E organizá-lo.
E enfeitá-lo.
Fazê-lo, enfim, mais bonito.


É daqueles pensamentos bonitos.

E acertados.

E óbvios.


Mas então, eu olho as minhas mãos calejadas e sujas.

E olho o meu mundo, também.

E penso, pela enésima vez!, em como pensar/falar é tão fácil

e

fazer é tão difícil!!!

fatima

domingo, março 23, 2008


A todos eu desejo uma Páscoa cheia de amêndoas e outras coisas, melhores e mais doces...


:)

fatima

sábado, março 22, 2008

Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.

Poema de Eugénio de Andrade

segunda-feira, março 17, 2008


Dizes que amas a chuva,


e tu fechas a janela.






Dizes que amas as flores,


e tu cortas-lhes o caule.






Dizes que amas os peixes


e tu pesca-los


e tu come-los.








Então quando dizes que me amas,


eu tenho um pouco de medo.








Poema de Jacques Prévert

sexta-feira, março 14, 2008

...


A todos eu desejo um bommmmmmmmm fds.
E, para todos eu deixo esta imagem que por acaso encontrei e de imediato amei.

A legenda dela: make it happen...

Com um beijo,

fatima

quarta-feira, março 12, 2008

Uma história


Era tarde, mas mesmo assim, tu vieste.
Um abraço e um olhar ao fundo dos meus olhos e, soubeste tudo.


Também, não era dificil. Afinal, há muito que todos o anteviam, excepto eu, que só adivinho coisas erradas.

Disseram-me que talvez tu viesses e eu quedei-me à tua espera, alheia à tarde que escurecia, alheia à noite que estrelou....

Deve ter esfriado também, não notei.

Tu vieste, mesmo!

E agora.... agora, eu escolhia, muito à pressa, as palavras, para te contar.

Sim, quando acabasse o abraço e tu parasses de me olhar, eu teria que falar!

Falar explicações, apenas. Porque o resto, tu sabes, toda a gente sabe.

Emendo: toda a gente soube, antes de mim!

(1, 2, 3, vou dizer tudo, agora mesmo, força!)

-- Vem ver o limoeiro, ganhou flores, está bonito.

Um sorriso teu...

(E sorriste de mim e não para mim, penso.)

-- Sorte. Foi sorte. Tive sorte. Foi isso. Foi assim.

(A sorte evitava outras explicações e poupava-me as palavras, acabara de me ocorrer...)

Avistei uma surpresa e uma interrogação, mas foram breves e ligeiras pois logo logo aconteceu um sorriso largo e uma palavra, teus:

-- Parabéns!

Outro abraço, e juntas, fomos festejar.

Fim

fatima

terça-feira, março 11, 2008

11 de Março, dia da mulher (tb)




As mulheres de 80 anos sentam-se em todas as cadeiras
como se estivessem sentadas em tronos. Podem ter anéis
nos dedos, como podem ter lenços de assoar nos bolsos.

Em natais, festas de aniversário com pão-de-ló, ou em

casamentos, as mulheres de 80 anos reúnem uma

assembleia de afilhadas solteiras e explicam-lhes

que a vida é transparente e que o passado, fechado em

armários que rangem durante a noite, brilha às vezes, como

as pratas dos chocolates que entregam nas mãos das crianças.

Poema de José Luis Peixoto

em cal




segunda-feira, março 10, 2008

:)




Dias luminosos são aqueles em que brilham mil sóis!,
INSIDE US.

E por fora!
(ao lado)
(em volta)
(ao longe)
(ao perto)
.....
....

E os dias BONS são aqueles em que deixamos que esses sóis todos
nos aqueçam!

Uma semana cheia cheia de dias bonsssssssssss,
para todos (nós).

fatima

domingo, março 09, 2008









Todos os dias sussurro para mim mesma,



mantém o equilíbrio. Tudo te persegue,



tudo assusta, a tua vida inteira depende


de um frágil fio e de um azar injusto.



A tua vontade não pode grande coisa.






Não percas o pé. Mantém o equilíbrio.























Poema de Amalia Bautista

sexta-feira, março 07, 2008

miss you





Perguntas-me por saudades
Eu respondo-te com saudade

fatima

d

quinta-feira, março 06, 2008



Não sei se nascemos juntas,

Não lembro se cresceu comigo.







Hoje habita na parte de dentro de mim e as vezes toma-me por completo.

É uma tristeza imensa,

uma melancolia brava,

que me quebra o sorriso e me turva o olhar.




Nem sempre dou por ela,

são os outros que a notam e logo logo, a tentam espantar.

Não entendem que somos cúmplices e que nos precisamos .

Não entendem que ela me trouxe de volta ao mundo que eu em tempos renunciei.

Não entendem que ela me salvou e me salva ainda todos os dias
porque viver aparte dela é viver num mundo mt mas mt pequenino,
onde não cabem outros com as suas dores misérias tragédias angustias etc etc.




Prefiro pois viver junto com esta minha tristeza,
do que viver sozinha num mundo assim,
pequeno demais….

fatima

terça-feira, março 04, 2008

:)





A Primavera chegará,
mesmo que ninguém mais saiba o seu nome,
nem acredite no calendário,
nem possua um jardim para recebê-la.


Cecília Meireles

domingo, março 02, 2008

...



Alguns -
quer dizer nem todos.
Nem a maioria de todos, mas a minoria.
Excluindo escolas, onde se deve
e os próprios poetas,
serão talvez dois em mil.

Gostam -
mas também se gosta de canja de massa,
gosta-se da lisonja e da cor azul,
gosta-se de um velho cachecol,
gosta-se de levar a sua avante,
gosta-se de fazer festas a um cão.

De poesia -
mas o que é a poesia?
Algumas respostas vagas
já foram dadas,
mas eu não sei e não sei, e a isso me agarro
como a um corrimão providencial.


Poema de Wislawa Szymborska
em Alguns gostam de poesia