domingo, maio 27, 2018

segunda-feira, maio 21, 2018

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- Porque, Hermine? Diz-mo!
- Porque sou como tu. Porque estou só, tal como tu, e porque sou incapaz de amor e levar a sério a vida, as pessoas e eu mesma, tal como tu. Há sempre algumas pessoas que exigem o máximo da vida e que não lidam bem com a estupidez e crueza desta.
(...)



De Hermann Hesse, em O Lobo das Estepes




sexta-feira, maio 18, 2018

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A poesia não está nas olheiras imorais de Ofélia
nem no jardim dos lilases.
A poesia está na vida,
nas artérias imensas cheias de gente em todos os sentidos,
nos ascensores constantes,
na bicha de automóveis rápidos de todos os feitios e de todas as cores,
nas máquinas da fábrica e nos operários da fábrica
e no fumo da fábrica.
A poesia está no grito do rapaz apregoando jornais,
e
no vaivém de milhões de pessoas conversando ou praguejando ou rindo.
Está no riso da loira da tabacaria,
vendendo um maço de tabaco e uma caixa de fósforos.
Está nos pulmões de aço cortando o espaço e o mar.
A poesia está na doca,
nos braços negros dos carregadores de carvão,
no beijo que se trocou no minuto entre o trabalho e o jantar
-- e só durou esse minuto.
A poesia está em tudo quanto vive, em todo o movimento,
nas rodas do comboio a caminho, a caminho, a caminho
de terras sempre mais longe,
nas mãos sem luvas que se estendem para seios sem véus,
na angústia da vida.
A poesia está na luta dos homens,
está nos olhos abertos para amanha.


De Mário Dionísio
Pintura de Paul Klee


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quarta-feira, maio 16, 2018

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Quem é que morreu no dia em que morreste, Inês? A vida somos sempre nós e mais alguém. Mas quando um morrer, todos morrem. Sobrevivem apenas pedaços, desencontrando.se no caminho interrompido. O vento faz o seu caminho e o apaga na passagem.

De  Luís Rosa em O Amor infinito de Pedro e Inês



sexta-feira, maio 11, 2018

quarta-feira, maio 09, 2018

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Nunca percebi quando se deixa de ser pequeno para passar a ser crescido. Provavelmente quando substituímos  os guarda-chuvas de chocolate por bifes tártaros. Provavelmente quando começamos a gostar de tomar duche.Provavelmente quando cessamos de ter medo do escuro. Provavelmente quando nos tornámos tristes. 
Mas não tenho certeza, não sei se sou crescido.

De António Lobo Antunes