sexta-feira, novembro 26, 2010

eu, ainda ando nos treinos...


Porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como sempre ou nunca.
Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas.
Já não tentamos o suicídio nem cometemos gestos tresloucados.
Alguns, sim – nós, não.
Contidamente continuamos.
E substituímos expressões fatais como não resistirei por outras mais mansas, como sei que vai passar.
Esse é o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência.


*

de Caio Fernando Abreu

2 comentários:

su disse...

"sei que vai passar"... porque tudo passa. umas vezes, mais facilmente. outras, nem por isso. cabe-nos descobrir como ajudar a passar.

Soaroir de Campos disse...

Invoco o Louco
©Soaroir

Uma quase crônica:

Eu, pouco, muito pouco faria se tivesse quatro mãos, se fosse o único humano a tê-las; me tornaria handicapped, deficiente, aleijão, matéria de pesquisa, atração. Idem se não agir como todo mundo. Mas agora basta de amar outros amores, mandar flores para os defuntos, chorar sobre sepulturas alheias. Estou enterrando meus próprios mortos, mudando da tradição a mania. Rasgo aqui minhas listas de promessas e esperas. Vou me amar de verdade; parar de fingir, que acredito, que família é tudo igual, que virtual é real e que poesia é estética; de pensar e agir como papagaio; largo o bando de seriemas e piaçocas e paro de revolver ciscos, catar insetos, engolir sapos. Cansei de avoar em bando. Desço para o meu posto e assumo que não me apraz ouvir bordões, citações de famosos morridos e matados, frases feitas e aplaudir a escassez de originalidade.
Por tudo isso é que às vezes me grito quando me indagam como me chamo. Sou tanto largado entre a maioria dos que me chamam de muitos nomes ao mesmo tempo! Mas eu me creio e por isso agora eu me chamo para esvaziar a lixeira, e o resto da caixa de entrada marcar como spam.
Basta de Ctrl C e V, filosofar, rimar meus versos com outras rimas. Pode até ser besteira, mas se troco o café, o açúcar, a cachaça e o cigarro por ansiolítico medicamentoso, como fica meu estado de alerta contra a ignorância de tudo e todos?
Importava-me com tudo e todos apesar da ignorância deles. Agora é tarde. De acordo com o CID-10 possuo F33.2, direito adquirido de invocar o louco.
©Soaroir
01/01/2012